Na primeira eleição em que funcionou a divisão equalitária de verba eleitoral com recorte de gênero e raça, ao menos 149 candidaturas de mulheres e negros doaram parte ou quase toda a verba pública de campanha a 222 candidatos brancos, que não poderiam usufruir como quisessem desse dinheiro.
A lei eleitoral estipula que o dinheiro faz parte de uma ação afirmativa direcionada a candidaturas de homens pretos e pardos e mulheres. Por isso, não pode ser dividido com candidatos homens, a não ser que beneficie as duas campanhas, o que foi pouco notado pela reportagem. Nesses casos, especialistas avaliam que a legislação prevê restituição ao Tesouro Público e até a perda do mandato.
A soma do dinheiro doado sem a justificativa chegou a R$ 10,2 milhões, 69.54% dos cerca de R$ 14,75 milhões enviados em 248 doações a candidatos homens brancos por cotistas com dinheiro do FEFC (Fundo Especial de Financiamento e Campanha), o Fundo Eleitoral. Este dinheiro foi enviado por 61 mulheres (R$ 2,7 milhões) e por 88 candidatos negros (R$ 7,5 milhões).
Os cinco homens brancos que mais usaram a verba delas
O governador eleito do Pará Helder Barbalho (MDB-PA) é o líder do top 5 de candidatos brancos homens que mais gozaram do FEFC destinado a candidaturas femininas e não detalharam totalmente como gastaram o dinheiro.
Foram R$ 300 mil recebidos de sua mãe, Elcione Therezinha Zahluth Barbalho (MDB), que se elegeu deputada federal também pelo Pará. Destinatária de R$ 2,5 milhões do FEFC, ela foi a mulher que doou o valor mais alto a um candidato branco.
Eleito no primeiro turno, Helder citou gasto de R$ 232.910 em campanha impressa “casada” com a mãe, mas não revelou como aplicou os R$ 67.090 restantes. Na relação das dívidas, Helder ainda precisa quitar R$ 1.204.733,34, mas não há menção sobre devolução da verba que sobrou da doação da deputada federal eleita.
Próximo da lista, o deputado estadual eleito Cirone Deiró (União Brasil-RO) recebeu R$ 135 mil de Mary Braganhol (União Brasil), que não se elegeu para deputada federal pelo mesmo estado e foi a chefe de gabinete dele na Assembleia Legislativa de Rondônia.
Em terceiro lugar, o ex-BBB Adrilles Jorge (PTB-SP), que não se elegeu para a Câmara dos Deputados, obteve R$ 133 mil de Cris Godoy (PTB) e R$ 125 mil de Valéria Bernardo (PTB), ambas candidatas não eleitas à Assembleia Legislativa de São Paulo. Em sua prestação de contas, Adrilles não informa como usou o dinheiro. Além disso, o candidato possui uma dívida de R$ 63.494,15 registrada nos dados abertos do TSE.
O quarto do ranking é Mitter Mayer Volpasso Borges (PP), deputado estadual suplente do Espírito Santo que obteve R$ 110 mil da mãe, Gesyane Rodrigues Volpasso Borges, a Nane (PP), deputada federal suplente pelo mesmo estado. Enquanto ele recebeu 1.804 votos, ela, que usou R$ 524.066,04 para campanha, obteve só 1.107.
O último dos cinco homens brancos que mais receberam recursos do FEFC feminino é Jairo Lima da Silva, o pastor Jairinho (União Brasil). Candidato a deputado federal por Pernambuco não eleito, ele recebeu R$ 100 mil de Socorro Pimentel (União Brasil), que concorreu sem sucesso à Assembleia Legislativa pernambucana. Até o momento, ele não entregou a prestação de contas.
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